segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Outro Vento Vem...

O vento que adentra janela
Infla as cortinas como balões
Velas de um barco sem mastro
Nenhuma direção
À deriva
Em mar aberto
Cortinas respiram
Vivas
Dançando
Caótico ritmo
Constante bruma
Faz flutuar paradas
Como as asas delicadas de um pássaro
Ilusão
Logo lançadas feito labaredas
Simultaneamente sugadas pela fresta
O rápido instante em que abre um paraquedas
O quarto pulsa
Entre claridade e escuridão
Apagar e acender
Cores e sons
O quarto inspira
Mas tudo quer expirar
Pulmão
Coração
Átrios
Ventrículos
Alvéolos
Sintonia perfeita
O ar que entra no peito
O sangue que pulsa
Pulso
Sol que cobre a cortina
Mosaicos flutuantes
Escorrem para o chão
Molas em xadrez
Leves
Um sopro rompe o átrio
Um infarto descortina a fresta
Recorte de céu azul quadrado
Pelo losango da grade branca
Delimitando o céu infinito
Avisto nuvem em forma de ave fênix
Logo o vento desfaz
A cortina fecha
Passou
Outro vento vem...

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

AMOR DE PLATÃO

No verbo transitivo amor
O sujeito deve ser agente
E paciente
Praticar e sofrer
Simultaneamente

Sujeito que pratica
E não sofre
A ação do amor
Tem amor
Sem ação
Sem complemento
Amor de Platão


STARRY, STARRY, NIGHT - Don McLean


Maravilhoso tributo de Don McLean a Vicent Van Gogh
Wonderful music of Don McLean written as a tribute to Vincent van Gogh


"Starry, starry night.
Paint your palette blue and grey,
Look out on a summer's day,
With eyes that know the darkness in my soul.
Shadows on the hills,
Sketch the trees and the daffodils,
Catch the breeze and the winter chills,
In colors on the snowy linen land."


terça-feira, 15 de outubro de 2013

IDADE MADURA

"Já não dirão que estou resignado
e perdi os melhores dias.
Dentro de mim, bem no fundo,
há reservas colossais de tempo,
futuro, pós-futuro, pretérito,
há domingos, regatas, procissões,
há mitos proletários, condutos subterrâneos,
janelas em febre, massas de água salgada, meditação e sarcasmo."

(Carlos Drummond de Andrade)



SONETO DO AMOR TOTAL

Na semana em que nosso mestre poeta Vinicius de Moraes completaria 100 anos, compartilho um de seus mais belos trabalhos: "Soneto do Amor Total".

Um soneto é composto por dois quartetos e dois tercetos, ou seja, quatro estrofes, sendo que as duas primeiras devem conter quatro versos e as duas últimas três, num total de catorze versos. Além disso, um soneto deve apesentar o mesmo número de sílabas poéticas. No caso deste soneto de Vinicius, ele possui dez sílabas poéticas (decassílabo), com rimas alternadas no primeiro quarteto, rimas entrelaçadas no segundo quarteto, e classificado como Sáfico, com sílabas tônicas na 4ª, 8ª e 10ª posições.


SONETO DO AMOR TOTAL

Amo-te tanto, meu amor... não cante 
O humano coração com mais verdade... 
Amo-te como amigo e como amante 
Numa sempre diversa realidade 

Amo-te afim, de um calmo amor prestante, 
E te amo além, presente na saudade. 
Amo-te, enfim, com grande liberdade 
Dentro da eternidade e a cada instante. 

Amo-te como um bicho, simplesmente, 
De um amor sem mistério e sem virtude 
Com um desejo maciço e permanente. 

E de te amar assim muito e amiúde, 
É que um dia em teu corpo de repente 
Hei de morrer de amar mais do que pude.



TRANSLAÇÃO DO AMOR

Experimentei tardes e abraços quentes, alegres, de verão!

Vivi as indecisões de um outono plácido, inerte, mas iminente...

Tive o coração rachado, e calado, no frio do mais austero inverno!

Hoje contemplo o despertar da primeira flor por este jardim...




PERFEITO

Apesar de ter se perfeito o pretérito que fora mais-que-perfeito
Apesar de todos os indicativos e subjuntivos do futuro conjugados
O que fica no presente – e que é perfeito – é verbo que não perfaz


EXPIRA

E saiu de mim
Tal qual um suspiro
Um sopro
Como tudo aquilo que inspira
Que algum dia
Expira
Como se tudo que outrora
Essência fosse
O sangue
O ar
Não mais trouxe
Nem deixara vazio peito
No presente
Enfim desfeito